Com a passagem do
ambiente judaico para o helenístico, acentua-se a oração de acção de graças,
chamada em grego «eucaristia» (esta palavra estender-se-á a todas as celebrações
e, depois, aos dons santificados) e prepara-se um formulário adequado;
organiza-se a primeira parte com leituras bíblicas , homilia, cantos e orações
(a nossa «liturgia da palavra»), segundo um esquema inspirado na liturgia
sinagogal. São Justino, por volta do ano 160 oferece-nos a primeira descrição
da Eucaristia dominical, em Roma, e Santo Hipólito, por volta de 215, apresenta
o primeiro texto de oração eucarística escrita que corresponde , com algumas
modificações, à actual segunda oração eucarística. As duas partes,
liturgia da palavra e liturgia eucarística, estão bem delineadas e não sofrerão
grandes mudanças ao longo dos séculos.
Com o séc. IV, a
liturgia da Missa (é o novo nome utilizado no Ocidente) conhece um notável
desenvolvimento com expressões de solenidade e de esplendor, e a introdução
de novos elementos. À volta do duplo núcleo surgem diferenças rituais e de língua
que aparecem nas grandes cidades, como Alexandria, Antioquia, Bizâncio, Milão
e Roma. No Rito romano (que somente durante os sécs. X-XI dominará em todo o
Ocidente) passa-se da língua grega para a latina, para a composição da oração
eucarística ou cânon romano (que permanecerá substancialmente imutável até
1968), para a introdução do Sanctus e do Pai-Nosso.
Nos sécs. V-VII,
ganham muita importância três momentos da celebração, acompanhados de cantos
e terminados por orações (colecta, ofertório e comunhão): procissão de
entrada, das ofertas do pão e do vinho com outras dádivas, e da comunhão.
Para a fracção do pão, introduz-se o canto do Cordeiro de Deus.
Aparecem os primeiros livros litúrgicos: para as leituras, os leccionários
(anteriormente, usava-se o livro da Bíblia); para as orações, os sacramentários;
e para os cantos, o gradual. O povo participava activamente em todas as
fases celebrativas, especialmente na procissão ofertorial. Nessa altura, a
liturgia romana da missa já está bem definida: uma acção eclesial na sua
variedade e riqueza de modalidades celebracionais. Mas não tardará a
iniciar-se o declínio.
Nos sécs. VIII e IX,
a liturgia romana transplantou-se para a Gália, por obra de Carlos Magno. Aí
introduziram-se orações privadas, recitadas em voz baixa pelo sacerdote, na
entrada, no ofertório e na comunhão. O povo já não compreende o latim e vai
diminuindo a sua participação, mesmo na comunhão. O sacerdote realiza tudo
sozinho; dos três livros atrás enumerados faz-se um único para uso exclusivo
do padre que desempenha todas as funções: é o livro da missa ou missal. A
atenção concentra-se na consagração com o rito da elevação da hóstia e do
cálice, com as correspondentes genuflexões e sinais da cruz. Desaparece a
comunhão do cálice e o pão ordinário é substituído por pão ázimo, a
nossa «hóstia», deposta na língua e já não na mão. Em 1014, a pedido do
imperador Henrique I, entra um novo elemento: o Credo ou Símbolo
niceno-constantinopolitano que chegará à Alemanha, vindo do Oriente para a
Hispânia e Gália.
Ao
crescente afastamento do povo em relação à missa para dedicar-se às suas
devoções particulares contrapõe-se uma liberdade excessiva do sacerdote que
provocará uma verdadeira anarquia litúrgica. O concílio de Trento intervém,
ordenando uma revisão do missal, que foi publicada em 1570 por São Pio V e
tornada obrigatória par atoda a Igreja Latina. Desde então até finais do séc.
XIX não houve nenhuma mudança de relevo. Mas, em 1910, São Poi X, com o início
do movimento litúrgico, propôs um projecto de reforma que foi retomado, em
1948, por Pio XII e que chegou ao Concílio Vaticano II. A ele se deve não só
uma revisão de todo o complexo ritual, um enriquecimento das leituras e orações,
o reaparecimento de alguns ritos (comunhão no cálice, oração dos fiéis,
etc.) e dos livros litúrgicos com a distribuição de tarefas pelos leitores e
cantores, mas sobretudo, a determinação de facilitar a compreensão 8removendo
o obstáculo do latim) e a participação do povo cristão.
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