História da Eucaristia

A história da celebração eucarística começa com a Última Ceia do Senhor, na qual Ele estabeleceu a estrutura fundamental do rito e ordenou a sua repetição. E fê-lo desta maneira: tomou o pão, deu graças com uma oração, da qual se recordam as palavras: «Isto é o meu corpo que será entregue por vós...», partiu-o e distribuiu-o como comido; igualmente tomou o cálice do vinho, deu graças dizendo: «Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança...», e distribuiu-o como bebida; por fim, concluiu: «Fazei isto em memória de Mim». Por isso, o núcleo central estabelecido por Jesus é a apresentação do pão e do vinho sobre a mesa ( o nosso «ofertório» ou apresentação dos dons), a oração eucarística tem como ponto central o relato da instituição chamado «consagração», a fracção do pão, a comunhão do seu corpo e do seu sangue. É a parte que actualmente se denomina «liturgia eucarística». Uma acção ritual comemorativa do Senhor ressuscitado, um memorial da sua morte e ressurreição, a ceia do Ressuscitado: assim foi compreendida e celebrada pela comunidade cristã desde as origens, no dia de domingo, nas casas particulares.
            Com a passagem do ambiente judaico para o helenístico, acentua-se a oração de acção de graças, chamada em grego «eucaristia» (esta palavra estender-se-á a todas as celebrações e, depois, aos dons santificados) e prepara-se um formulário adequado; organiza-se a primeira parte com leituras bíblicas , homilia, cantos e orações (a nossa «liturgia da palavra»), segundo um esquema inspirado na liturgia sinagogal. São Justino, por volta do ano 160 oferece-nos a primeira descrição da Eucaristia dominical, em Roma, e Santo Hipólito, por volta de 215, apresenta o primeiro texto de oração eucarística escrita que corresponde , com algumas modificações, à actual segunda oração eucarística. As duas partes, liturgia da palavra e liturgia eucarística, estão bem delineadas e não sofrerão grandes mudanças ao longo dos séculos.
            Com o séc. IV, a liturgia da Missa (é o novo nome utilizado no Ocidente) conhece um notável desenvolvimento com expressões de solenidade e de esplendor, e a introdução de novos elementos. À volta do duplo núcleo surgem diferenças rituais e de língua que aparecem nas grandes cidades, como Alexandria, Antioquia, Bizâncio, Milão e Roma. No Rito romano (que somente durante os sécs. X-XI dominará em todo o Ocidente) passa-se da língua grega para a latina, para a composição da oração eucarística ou cânon romano (que permanecerá substancialmente imutável até 1968), para a introdução do Sanctus e do Pai-Nosso.
            Nos sécs. V-VII, ganham muita importância três momentos da celebração, acompanhados de cantos e terminados por orações (colecta, ofertório e comunhão): procissão de entrada, das ofertas do pão e do vinho com outras dádivas, e da comunhão. Para a fracção do pão, introduz-se o canto do Cordeiro de Deus. Aparecem os primeiros livros litúrgicos: para as leituras, os leccionários (anteriormente, usava-se o livro da Bíblia); para as orações, os sacramentários; e para os cantos, o gradual. O povo participava activamente em todas as fases celebrativas, especialmente na procissão ofertorial. Nessa altura, a liturgia romana da missa já está bem definida: uma acção eclesial na sua variedade e riqueza de modalidades celebracionais. Mas não tardará a iniciar-se o declínio.
            Nos sécs. VIII e IX, a liturgia romana transplantou-se para a Gália, por obra de Carlos Magno. Aí introduziram-se orações privadas, recitadas em voz baixa pelo sacerdote, na entrada, no ofertório e na comunhão. O povo já não compreende o latim e vai diminuindo a sua participação, mesmo na comunhão. O sacerdote realiza tudo sozinho; dos três livros atrás enumerados faz-se um único para uso exclusivo do padre que desempenha todas as funções: é o livro da missa ou missal. A atenção concentra-se na consagração com o rito da elevação da hóstia e do cálice, com as correspondentes genuflexões e sinais da cruz. Desaparece a comunhão do cálice e o pão ordinário é substituído por pão ázimo, a nossa «hóstia», deposta na língua e já não na mão. Em 1014, a pedido do imperador Henrique I, entra um novo elemento: o Credo ou Símbolo niceno-constantinopolitano que chegará à Alemanha, vindo do Oriente para a Hispânia e Gália.
            Ao crescente afastamento do povo em relação à missa para dedicar-se às suas devoções particulares contrapõe-se uma liberdade excessiva do sacerdote que provocará uma verdadeira anarquia litúrgica. O concílio de Trento intervém, ordenando uma revisão do missal, que foi publicada em 1570 por São Pio V e tornada obrigatória par atoda a Igreja Latina. Desde então até finais do séc. XIX não houve nenhuma mudança de relevo. Mas, em 1910, São Poi X, com o início do movimento litúrgico, propôs um projecto de reforma que foi retomado, em 1948, por Pio XII e que chegou ao Concílio Vaticano II. A ele se deve não só uma revisão de todo o complexo ritual, um enriquecimento das leituras e orações, o reaparecimento de alguns ritos (comunhão no cálice, oração dos fiéis, etc.) e dos livros litúrgicos com a distribuição de tarefas pelos leitores e cantores, mas sobretudo, a determinação de facilitar a compreensão 8removendo o obstáculo do latim) e a participação do povo cristão.

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