Jesus nos deixou uma antítese perfeita do banquete do rico epulão, a
Eucaristia. Esta é a celebração diária do grande banquete ao que o
Senhor convida os «pobres, os estropiados, os cegos e os cochos» (Lc 14,
15-24), isto é, todos os pobres Lázaros que há ao redor. Nela se
realiza a perfeita «comensalidade»: a mesma comida e a mesma bebida, e
na mesma quantidade, para todos, para quem preside como para o último
que chegou à comunidade, para o riquíssimo como para o paupérrimo.
O vínculo entre o pão material e o pão espiritual era bem visível nos
primeiros tempos da Igreja, quando a ceia do Senhor, chamada agape,
tinha lugar no contexto de uma refeição fraterna, na que se partilhava
tanto o pão comum como o eucarístico.
Aos coríntios que haviam errado sobre este ponto, São Paulo escreveu:
«Quando, pois, vos reunis, o que fazeis não é comer a Ceia do Senhor;
cada um se apressa por comer a própria ceia; e, enquanto um passa fome, o
outro fica embriagado» (1 Cor 11, 20-22). Acusação gravíssima; é como
dizer: a vossa já não é uma Eucaristia!
Hoje a Eucaristia já não se celebra no contexto de uma refeição comum,
mas o contraste entre quem tem o supérfluo e quem não tem o necessário
adquiriu dimensões planetárias. Se projetamos a situação descrita por
Paulo da Igreja local de Corinto à Igreja universal, nos damos conta com
pesar de que é o que – objetivamente, se bem que nem sempre com culpa –
sucede também na atualidade. Entre milhões de cristãos que, nos
distintos continentes, participam da Missa dominical, há alguns que, de
regresso a casa, têm à disposição todo bem, e outros que não têm nada
que dar de comer a seus próprios filhos.
A recente exortação pós-sinodal sobre a Eucaristia recorda com força: «O
alimento da verdade nos impulsiona a denunciar as situações indignas do
homem, nas que, por causa da injustiça e da exploração, morre-se por
falta de alimento, e nos dá nova força e ânimo para trabalhar sem
descanso na construção da civilização do amor» [8].
O 0,8% [porcentagem de destinação tributária do Imposto sobre a Renda
das Pessoas Físicas na Itália. Ndt.] melhor gasto é o que se destina à
Igreja com este objetivo, sustentando as diversas «Caritas» nacionais e
diocesanas, as mesas dos pobres, iniciativas para a alimentação nos
países em vias de desenvolvimento. Um dos sinais de vitalidade de nossas
comunidades religiosas tradicionais são as mesas dos pobres que existem
em quase todas as cidades, nas que se distribuem milhares de refeições
ao dia em um clima de respeito e de acolhida. É uma gota em um oceano,
mas também o oceano, dizia Madre Teresa de Calcutá, está cheio de
pequenas gotas.
Gostaria de concluir com a oração que rezamos diariamente, antes das
refeições, em minha comunidade: «Bendizei, Senhor, este alimento que,
por tua bondade vamos receber, ajudai-nos a prover dele também os que
não o têm, e fazei de nós partícipes um dia de tua mesa celestial. Por
Cristo Nosso Senhor
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